A Verdadeira Omissão de Socorro
Manoel Soares
Volta e meia ouço falarem que brasileiro é acomodado, não se mobiliza para mudar nada, e por aí vai. Se é verdade que, muitas vezes, assumimos essa postura, algum motivo deve haver, né? Quer ver só. Vamos pegar como exemplo o documentário Falcão, feito pelo MV Bill e pelo Celso Athayde. Lembro que, na segunda feira após o Fantástico exibi-lo, havia um monte de gente chocada com o que viu. Duas semanas passaram e as pessoas parecem já ter se conformado com destino trágico de milhares de jovens. Na boa, gente, para que o mal ganhe essa batalha, basta que o bem fique de braços cruzados sem fazer nada. Depois de seis anos se virando como podiam para fazer um documentário que mostrasse ao Brasil o que o país está fazendo com sua juventude, com a ajuda de alguns políticos, Bill e Celso estão correndo o risco de serem acusados de crime de omissão de socorro. Isso porque, durante as gravações, viram pessoas em perigo e não tiveram como ajudar. Talvez seja por fatos como esse que as pessoas, no Brasil, estejam acomodadas, com medo de tentarem e, depois, levarem na cabeça. Um dos receios os produtores era que os traficantes fizessem algo contra eles por causa do filme, mas, para surpresa de todos, esta atitude veio do outro lado. Já que a moda é condenar por omissão de socorro, vamos condenar, também, os poderes públicos que, por falta de competência administrativa, estão tragando vidas, fechando os olhos para o que até cego já viu. Sem contar que muitos de nós, que moramos em periferias, já agimos como Bill e Celso, pois tivemos que nos calar, ao ver a vida sendo desrespeitada, por bandidos ou por quem representa a lei, por não termos como nos defender. É lamentável que iniciativas tomadas em um espaço aberto de televisão, que poderiam mudar parte do rumo da nossa sociedade, sejam mal compreendidas por quem senta na cadeirinha de comando.
Mas vamos lá, amanhã é outro dia.
Artigo publicado no Diário Gaúcho em 07 de abril
Porto Alegre, RS
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